Numa noite fria de Fevereiro uma ideia aqueceu-me. A ideia cresceu e ganhou forma num turbilhão de desejos de mobilidade. Sonhei deambular por terras Europeias antes de rumar ao país do sol nascente, tendo por único mote o olhar.
Os parcos recursos de professor contratado ditaram uma criteriosa pesquisa nas (benditas sejam!) companhias aéreas para pés descalços e, ao sabor de excitantes combinações mentais, construiu-se um mapa de andanças para o Agosto que se avizinha.
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OUTPUT:
De mochila às costas, em solitário, sem repetir rotas, 25 dias em 6 capitais europeias.
Lisboa - Londres - Amesterdão - Budapeste - Bratislava - Viena - Varsóvia - Lisboa
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O projecto Agosto 2005 hibernou e envolvido pela azáfama da escola, as férias chegaram num fósforo.
I - LONDRES (3-9/08/2005)
Muitos mundos reunidos num só. O pulsar da diversidade e da etnicidade numa cidade plena. O passado e o presente coexistem harmoniosamente e uma exuberante multi-culturalidade atrai o olhar.
Gostei das pessoas. Escassos dias antes o terror tinha descido ao metro, bem visível no intenso policiamento, mas os rostos não espelhavam o medo. O clima apesar da (má) fama esteve a meu favor - sol, calor e sandálias.
O Melhor: *A diversidade étnica de Chinatown, Soho ou Peckham Rye *O verde de Highgate Hill *A arte do Tate Modern *O frenesim das pessoas em Trafalgar Square *
II - AMESTERDÃO (9-15/08/2005)
Passear à toa por entre as bonitas e bem preservadas (que longe estás, Lisboa!) casas do séc. XVI, sonhar com as charmosas casas barco que povoam os inúmeros canais e viver a cidade numa bicicleta. Afastando-nos das rotas turísticas, somos envolvidos pelo bucolismo e pacatez holandesas.
A cidade é bonita, descontraída e ... aborrecida, povoada por gente individualista e discreta. Não serão um povo caloroso mas é possível observar que têm um ritmo de vida descontraído. A cidade é relativamente pequena, calma e percorre-se em poucos dias. Os Coffee Shops e o Distrito Vermelho depressa se tornam monótonos e muita coisa encontra-se completamente "turisticalizada".
O Melhor: *Tarte de maça na Villa Zeezicht *O uso massivo da bicicleta *As casas bonitas que ladeiam os canais *
III - BUDAPESTE (15-21/08/2005)
O Danúbio é encantador e cheguei a tempo do famoso festival de verão Sziget (o prato do dia foi Nick Cave e os Bad Seeds). As verdes colinas de Buda, a animação de Peste e o serpentear do rio são imagens coloridas que alimentam qualquer sonho de Verão.
Nas minhas explorações afastei-me dos trilhos turísticos e pude ver uma Budapeste mais real, nua e crua. Nos banhos Húngaros a tradição Otomona/Romana encontra-se preservada. Abandonei-me ao prazer corporal como um Romano decadente (embora faltassem as jovens lascivas a espalhar óleos perfumados no meu corpo). Usei sandálias q.b. e convivi intensamente com os simpáticos nativos.
O
CouchSurfing proporcionou-me outra visão da cidade e vivências inacessíveis a um simples turista e a oportunidade de ser guiado pela Kinga através das terras e da alma húngara.
O Melhor: *O Dánubio *A Kinga *A vista nocturna a partir da colina Gillert *Os banhos Húngaros *
IV - BRATISLAVA e VIENA (21-24/08/2005)
Uma agradável viagem de comboio levou-me para Bratislava, com o Danúbio sempre presente, a embelezar o meu percurso. Fui encontrar uma cidade pequena e bonita, que se explora facilmente em 2/3 dias e, "at last but not at least", barata. A localização da cidade é fantástica e poderá servir de ponto de partida para explorar as lindíssimas montanhas Tatra e a parte leste da Eslováquia (com paisagens de tirar a respiração). E Viena está a uns meros 60Km...
A minha anfitriã (Zuzana) foi incansável na divulgação dos hábitos e cultura Eslovaca. Mostrou-me os locais de maior interesse, dedicou-me palavras amigas, conselhos valiosos e sorrisos calorosos. Viva o
CouchSurfing!
Post-scriptum: Na minha excursão a Viena, encontrei uma cidade imponente e bela, senhora de um passado/presente requintado. Embalei-me mentalmente com os quadros de Klint, com a filosofia de Wittgenstein e com a música vienense a ecoar na minha imaginação.
O Melhor: *A hospitalidade da Zuzana *As paisagens devastadoras *A comida saborosa *
V - VARSÓVIA e ZAKOPANE (24-28/08/2005)
As asas de um Embraer 120 (com capacidade para 30 passageiros) permitiram-me reencontrar a querida Aneta e constatar o cosmopolitismo de Varsóvia em todo o seu potencial.
Tínhamos por planos visitar, durante dois dias, as montanhas do Sul Polaco - os Tatra. Dormimos num hotel comunista e sem receios afirmo que Zakopane foi dos momentos áureos de toda a minha viagem - as casas assumem formas extravagantes que se assemelham a árvores de natal, as colinas verdejantes estão povoadas de vaquinhas e ovelhas simpáticas, os regatos de água serpenteiam pelos vales e encostas, tudo é verde e as montanhas estão repletas de pinheiros que se esticam para o céu.
No 1º dia descemos o rio Dunajec, 18Km de jangada através das fundas gargantas rochosas dos Tatra, o murmurar da água, o verde da paisagem e os cheiros conduzem-nos a um orgasmo tranquilo. Durante toda essa tarde fui livre.
No 2º dia apanhamos um mini-bus em direcção ao sopé das montanhas e fizemos trekking pela montanha acima. Depois de muito subir, um céu de lagos e cumes escarpados. O êxtase da montanha. Regressei a Varsóvia suspirando pelo regresso.
O Melhor: *A Aneta *As montanhas Tatra *Glamour Polaco*
VI - A RESSACA DO REGRESSO
Regressei e demorei 2 dias para interiorizar o facto de que tinha regressado à minha pátria - deixei de ser um back-packer para passar novamente a ser um cidadão. E aqui estou: entre o prazer de voltar e o desejo de partir.
NOTA: O
CouchSurfing foi uma forma extremamente agradável de conhecer pessoas interessantes e de conferir calor humano/social aos sítios visitados. Além disso, arriscamo-nos a criar amizades...
AGRADECIMENTOS:
À comunidade
CouchSurfing, Carmel, Inês, Carolyn, Linda e a todos os convidados que estiveram presentes na festa, João Grilo, Judi, Cláudia, Lídia, aos 2 Macedónios do camping, Stan da Man, Kinga e todas as pessoas a que ela me apresentou, Harpad aka "Chica de la Sierra", Zuzana, Monika, Aneta, Ania de Poznan e a todos os desconhecidos que me ajudaram.