29/01/08

Há sempre espaço para + um (parte II)

A rede de transportes de Tóquio transpira energia, eficiência, pontualidade e higiene. Um polvo monstruoso que espalha tentáculos gigantes nos quais multidões circulam incessantemente de um lado para o outro (só na estação de Shinjuko são 3.31 milhões diários).

A hora de ponta, amada por uns e odiada por outros, é um ritual mecanizado das massas que, ao sabor das chegadas dos comboios e em espamos repetitivos, enchem as estações de formigas humanas num fervilhar constante que culmina nos comboios da meia-noite (lotados 3 ou 4 vezes acima da capacidade máxima recomendada). Nestas ocasiões, entrar no comboio/metro é uma técnica elaborada em que físico e espírito trabalham juntos. Imbuídos numa espiritualidade Zen, desligamos-nos do corpo para que este fique fluido e ai será possível entrar e ocupar algumas áreas vazias (mesmo quando estas quase não são continuas).

Escrever e-mails em ombros vizinhos, ler junto a peitos estranhos e um mar de gente que sai do comboio ao abrir das portas depressa se torna parte do quotidiano. O saber movimentar-se dentro da estação também se aprende com o passar do tempo e isso permite-nos aproveitar o ímpeto e a direcção da multidão já que, por vezes, perde-se um comboio por uma questão de segundos (o que implica esperar 3, 5 ou 7 minutos). Parar e/ou entrar em contra-mão implica emoções fortes e fica sempre bem facilitar os últimos metros daqueles que estão dispostos a saltar para uma porta de comboio quando esta se está a fechar.

Post-scriptum: às 21h os comboios estão calmos, como podem observar nas fotografias, pois a hora de ponta já passou. Na hora de ponta, ai sim, é necessário que as pessoas viajem compactadas e é nessas alturas que os empregados da estação, de luva branca, nos ajudam a entrar e até nos fecham a porta...

O supra-sumo da experiência é o Expresso da Meia Noite às Sextas e Sábados, mas é difícil descrever tamanha surrealidade. [1][2]

3 comentários:

Anónimo disse...

Sabe bem ler os teus escritos! Recordo-me com saudade dessa semana que em que me acolheste na tua casa Nipónica!
Falaremos.

Angelo disse...

Benditos comboios do campo, aqui em Oita!

Mimi disse...

Lembro-me de uma noite em que a Laura me enfiou num comboio em Shibuya, à hora de ponta, e de achar que estava tão enlatada que nunca mais conseguiria de lá sair.. E para agravar a situação, o comboio esteve parado muito tempo porque alguém se tinha lembrado de andar a "passear" na linha. Ainda hoje não percebo se foi uma experiência maravilhosa ou tenebrosa.