Abandono-me aos últimos estertores do verão sub austral enquanto espero pelo voo JL 762 para Tóquio. Nos entretantos faço uma retrospectiva das últimas semanas e antevejo uma chegada entusiasta a Tóquio onde se espera que encontre a segurança do quotidiano, as engrenagens que constroem o meu futuro e o desabrochar da Primavera (as cerejeiras em flor são um dos ícones Japoneses e a sua chegada é fortemente comemorada com festas, piqueniques e fotografias pois, à semelhança da vida, também a flor é bela, frágil e efémera). Levo comigo a simpatia, a acessibilidade e a aparente despreocupação do povo Australiano. Aparentam ter maiores preocupações ambientais do que o cidadão Europeu comum e nota-se uma presença significativa de modos de vida alternativos em que saúde, tempo livre, viajar e desporto são preferidos face aos empréstimos bancários a 25 anos e aos portões automáticos de garagem. Foi esta a impressão que ficou ao contactar com a Melanie e os seus amigos, o Richard e alguns desconhecidos. Sei que eles são atípicos e desconfio que o
Australiano Vulgaris é diferente. O
JG, com o conhecimento de quem vive no local, concorda na simpatia e acessibilidade mas alerta-me para a superficialidade da maioria, a rendição ao consumismo e a preocupação em parecer sem o ser. Acredito que a visão dele é bem mais realista do que a minha...
O viajar permite-nos valorizar os pormenores do quotidiano e reencontrar a beleza perdida mas, após a chegada e com o passar das semanas, essa beleza volta a diluir-se por entre a azáfama diária. No combate ao embrutecimento mental recomenda-se ler pois ler é imaginar e imaginar é viajar. Sendo assim e, de uma só assentada, reli o
BuenaYork do Gonçalo Mata e
A Lua Pode Esperar do Gonçalo Cadilhe. Ambos têm passagens que retratam a Patagónia, que é também o pano de fundo do delicioso blogue
A Estação do Calor, o destino do
Nuno Brilhante, a viagem concretizada do
Tiago Lages e o cenário do
famoso livro do Bruce Chatwin. Onde termina a Patagónia e começa a desolação do Fim do Mundo dizia-se que havia um mundo ao contrário, em que o sol seria negro e as árvores cresceriam ao contrário. Este temor foi desmistificado e vencido por um trasmontano, que em 1520, atravessou o estreito que posteriormente herdou o seu nome. Ah grande
Magalhães!
Agora que estou de volta à ilha de Cipango (Japão) irei retomar as crónicas e as observações sociais daquilo que me é dado ver por aqui. Reportagem Cerejeiras em Flor 2008 para breve!