29/12/05

Há sempre espaço para + um!

O passar dos comboios - Odakyo Line 22/12/2005

Rezam as estatísticas que 20 milhões de pessoas circulam diariamente nesta Metropolis. As multidões, num constante fluir mecânico, deslocam-se de bicicleta e de Transportes Públicos: Cidadãos anónimos, presidentes de bancos e estudantes em uniforme seguem o seu fado de formigas humanas - com o olhar em frente, num passo rápido e decidido, pois não há tempo a perder na sua rotina laboral.

Este movimento sustenta-se num exercito de Táxis e autocarros, numa imensidão de bicicletas, em 13 linhas de Metro e numa fantástica rede ferroviária. Febril, pontual, caótico, eficiente, moderno e sobre-lotado, são termos que poderíamos utilizar para descrever os transportes públicos de Tóquio. Mas não há nada como um exemplo:

Normalmente saio de casa pelas 7h50min, de bicicleta vou até à estação do bairro, onde me coloco ordeiramente na fila. De 3 em 3 minutos um comboio pára, a fila avança e quando chega a minha vez sempre me pergunto - "será que consigo entrar?" Em Roma sê romano e é assim que entro de costas, furando a multidão, outras pessoas seguem-me e admiro-me por não ter sido o ultimo. Se alguém fica entalado na porta, empregados de luva branca ajudam-no (empurrando-o) a entrar. O mote é "Há sempre espaço para mais um!" Durante 20 min os corpos confundem-se, nunca sabemos com precisão onde acaba o nosso corpo e começa o dos outros. Se for possível erguer o braço, com o livro ou com o telemóvel no ombro do vizinho, aproveita-se para ler um pouco ou escrever uns emails. Outras pessoas, conscientes de que o dia será longo, cerram as pálpebras e entram em standby. Há também aqueles que dormem (sentados ou em pé) pois o comboio é a sua segunda cama. Mudo para o Metro, as multidões vão diminuindo e termino a minha rota caminhando
pela universidade. No total demorei 1h10min. Á noite espera-me o caminho inverso, no regresso a casa.

Posso contar o meu percurso mas não consigo descrever a emoção de avistar, ao anoitecer, o Comboio Bala por entre os arranha céus de Shinjuku, num cenário futurista adequado a um Blade Runner. Pensamos no futuro, e a custo nos apercebemos que o futuro é já presente.

15/12/05

GPS

A minha cama mora em:
LAT: +35.65209
LON: +139.59633

GEOD Sys: WGS-84 / Display: degrees

13/12/05

Sushi em Shimokitazawa


Num movimento rotineiro abandono-me ao prazer do Sushi, em Shimokitazawa, e assim se conquista um bem estar paliativo renovado quase que diariamente.

Minimamente descrevo Sushi como sendo cilindros ou pedaços de arroz cobertos de salada de camarão, vegetais, caviar ou finas tiras de peixe cru. Embebido ritualmente (por nos) em molho de soja, cada pedaço come-se de uma vez só e a intensidade do sabor contrasta com a simplicidade do seu aspecto. Nos restaurantes kaiten-sushi as pessoas sentam-se ao balcão tendo os cozinheiros por perto, e entre criadores e consumidores um tapete rolante desfila deliciosas variedades de Sushi. É só esticar o braço e agarrar o prato que nos agradar mais, tanto pela estética como pela antevisão do sabor. Cada prato traz, por norma, dois pedaços de Sushi e com 8 pratos fico satisfeito mas a gula leva-me por vezes aos 12. Há sempre vontade de comer mais um...

Shimokitazawa e' uma das zonas mais funky e underground de Tóquio. Na saída Sul da estação de comboios (linha Odakyo e linha Keio) pseudo-artistas de rua realizam estranhas performances sob a luz dos inúmeros neons. As ruas estreitas enchem-se do colorido das imensas minorias presentes e as lojas de roupas usadas, de discos e de coisas estranhas coexistem ao lado de bares e restaurantes minúsculos em que clientes/barman ou clientes/cozinheiros/cozinha se fundem num espaço só. Se vieres a Tóquio e queres ser funky, vai a Shimokitazawa!

09/12/05

E depois do Outono?

O Outono dilui-se com o passar dos dias, num adeus prolongado. Nas árvores de cores alegres a folha caduca foi Rainha e Senhora de um exercito que usa as cores do arco-íris.

Amantes, fotógrafos e pintores, ansiosos por captarem a nostalgia envolvente, invadiram o Campus da Universidade de Tóquio (parques, rios e florestas apresentam os mesmos sintomas).

Aqui vos deixo algumas fotos Outonais deste Campus Universitário:

28/11/05

Poema IV


Vem, vamos embora,
que esperar nao e' saber
Quem sabe faz a hora,
nao espera acontecer

Refrao do poema/cancao
"Pra nao dizer que nao falei de flores"
Geraldo Vandré (1935 - ?)

22/11/05

Kamakura I


Num Domingo solarengo dois trintões dirigiram-se para Kamakura city em busca do templo perdido. Tendo o Oceano Pacifico como pano de fundo, embrenhamos-nos na selva urbana e, com um olhar arguto e descontraído, percorremos vários templos Xintoístas e Budistas onde a ressonância dos Gongs e o cheiro a incenso nos ajudou 'a acompanhar a contemplação dos crentes. No templo Hasedera os milhares de estátuas de formas grotescas, à semelhança de um exercito mudo/estático de vigilantes, fizeram-nos pensar na espiritualidade associada ao culto da Mãe Natureza (o credo mais antigo do mundo) e no nosso papel de peões nesta criação cósmica de átomos em movimento. Ansiando pelo estado Zen continuamos a marcha pois ainda havia novos mundo para trilhar...

Alguns nativos informaram-nos da existência de um Grande Buda (chamado Daibatsu e com 850 toneladas de cor verde bronze) algures a Norte. Ainda tínhamos mantimentos para algumas horas e partimos à sua descoberta. Por fim atingimos o destino mas a mente ainda não se sentia saciada, decidimos então aventurar-nos mais a Norte e, para nosso prazer, em pleno coração de Kamakura encontramos um mundo de templos habitados. O maior dos quais chama-se Tsurugaoka, onde nos foi permitido assistir a um casamento Xintoísta.
A cidade de Kamakura situa-se a 50Km a Sudoeste de Tóquio e foi capital do Japão entre 1192 e 1333 sob a égide dos clãs Minamoto e Hojo. Para muitos apelidada da "Kyoto do Leste" e' um local pejado de templos e historia. Rodeada de pequenas montanhas verdes ainda tem o bónus de ser banhada pelo Oceano Pacifico.

Há locais assim!

15/11/05

Nikko I

A beleza que emana da terra tem a capacidade de nos arrebatar. Locais como Nikko (140Km a Norte de Toquio) fazem-nos sentir assim.
Ontem regressei de um fim-de-semana pintado pelas cores de outono e pela generosidade da Universidade de Toquio. Depois do prazer dos banhos de aguas vulcanicas e do assedio visual das cores vivazes, o regresso ao dia-a-dia soa de forma tenebrosa. Mas assim deve ser a vida... uma luta constante entre "o tem de ser" e a fuga ao quotidiano.

Nikko tem uma longa historia que remonta ao Século VII, quando os primeiros templos Xintoístas se instalaram na cidade. As aguas vulcânicas que brotam das entranhas da terra foram aproveitadas (para consolar Corpo e Espírito criaram-se os Onsens) e as cores idílicas que envolvem Nikko trespassaram para a poesia e para a arte Japonesa. Chega o Século XVI e Tokugawa Ieyaso (O senhor feudal que unificou o Japão) ordena a construção de uma serie de templos que são hoje Património Mundial. Imaginem essa riqueza num cenário de montanhas povoadas pelas cores do outono e pelas quentes aguas que brotam do ventre da montanha.
A Universidade financiou o projecto e 42 estudantes, 1 Professor e o Staff das Relações Internacionais aceitaram o repto. Um autocarro levou a nossa boa disposição para Norte.
Ao passar pela porta do templo de Tosho-Gu apercebemos-nos que pisávamos terreno sagrado. Em seguida fomos para um Onsen (hotel especializado em banhos de aguas vulcânicas) de 9 andares onde deu para dormir num quarto de estilo Japonês (com camas Futon e paredes deslizantes de papel). Vesti uma Yukata (em exclusivo...) o tempo todo e, por entre banhos e massagens, tivemos um jantar delicioso/abundante no mais puro estilo Oriental (seguido de Karaoke). No dia seguinte exploramos a Edoland (parque de diversões que recria o estilo de vida do Japão antigo) e, de autocarro, atingimos os planaltos das montanhas Futarasan-jinja para perdermos o olhar pelas encostas cor de fogo.

Há fins de semana assim!

08/11/05

Nikon D50


Um sonho de infância foi ontem cumprido. Passei a ser dono e senhor de uma maquina fotográfica Nikon D50 equipada com uma lente AF-S DX Nikkor 18-70 mm f/3.5-4.5G IF-ED. Como sabe bem este sentimento de posse! Afinal de contas a sociedade de consumo tem as suas vantagens...


A partir de agora Tóquio passa pelos meus olhos, e pelos vossos tambem!

01/11/05

Os Samurais do Nihongo

Alguns elementos da minha turma durante o intervalo

Duas vezes por ano a Universidade de Tóquio (Todai) oferece cursos de Japonês (Nihongo). São gratuitos, divertidos e há-os para todos os gostos e feitios...

O Professor Hirose colocou a minha pesquisa em stand-by e, durante 4 meses, tenho a missão diária de aprender as artes do Nihongo.

Inscrevi-me num Curso intensivo, sem fins-de-semana nem horario de expediente. O céu é o limite, que é como quem diz por aqui, Ganbate!

O Curso tem uma estrutura funcional muito oleada. Os professores do Centro de Línguas são excelentes e TRABALHAM EM EQUIPA em prol de um objectivo comum (que longe estas Portugal...). As propinas do curso são elevadas mas o Padrinho Monbusho (Ministerio da Educação, Ciência, Desporto e Cultura) paga tudo!

Sinto progressos diários (já consigo de facto estabelecer pequenos diálogos patéticos e fazer o meu próprio pedido nos restaurantes).

Há 3 alfabetos no Japonês (Hiragana, Katakana e o Kanji). Utilizam-se os 3 alfabetos em simultâneo e tradicionalmente escreve-se de cima para baixo e da direita para a esquerda. Cada um dos Kana e' composto de 46 sílabas/caracteres/"letras". São ambos silábicos e representam sons. O Hiragana predomina mas o Katakana está sempre por perto e é usado para escrever palavras de origem estrangeira. O Kanji é de origem Chinesa e é pictográfico, ou seja, cada imagem representa um conceito que varia consoante o contexto. Felizmente o governo Japonês, dos 50 mil Kanji existentes, regulamentou APENAS 2000 para uso comum... Ufa!

Na minha turma 9 destemidos Samurais linguísticos aceitaram o repto de se embrenharem na doce arte do Nihongo: o Erham e o Caneru (Turquia), o Thao (Vietnam), o Ardi (Indonesia), o Bhin (Nepal), a Amy (Malasia), a Yuan (China), o Richard (Inglaterra) e o Antonio (aka Eu) de Portugal. Nunca nos esquecemos de rir com os nossos erros e de agradecer a oportunidade de estar aqui, na ilha de Cipango, no ano 2005 de nosso senhor Jesus Cristo. Jaa Mata!

No blogue Neverending Story há um texto muito interessante sobre a língua Japonesa. Chama-se "Às voltas com as palavras..." e foi escrito pela amiga Laura (a sorridente chama Lusa que ilumina esta Universidade).

23/10/05

Poema III - Estrela do Norte

Oh minha querida Estrela do Norte
que o passo continue iluminado pelo teu olhar,
que a poesia permaneça no trilho que percorro,
que o riso seja fiel companheiro e amigo

Oh minha querida Estrela do Norte
que bonito é estar por aqui,
cavalgando um cometa alado,
ter uma vida num dia só

Oh minha querida Estrela do Norte
nas entranhas da vida há riquezas sem fim -
sal, esmeraldas, safiras e carvão
Ricos filões por descobrir e trilhar!

Oh minha querida Estrela do Norte
que o bem-me-quer também murcha,
Quantos não murcharam já?!
ai então, ajuda-me a encontrar outro jardim...

António Rebordão (1975 - ?)

19/10/05

Quando a terra se agita

Estava eu em casa quando senti o edificio a estremecer ligeiramente. Fiquei na expectativa se iria aumentar de intensidade e exclamei alto e em bom som - ja' nao se pode cortar as unhas em paz!

Com algum divertimento lembrei-me de seguir as regras de seguranca: abrir a porta, encher o lavatorio com agua e agarrar o Kit Anti-Terramoto que nos foi dado 'a chegada. Obedeci 'a primeira regra e passados 4 ou 5 segundos a normalidade voltou a instalar-se no Kaykan (a residencia onde vivo).

As estatísticas indicam que ja haveria de ter ocorrido um terramoto de consequências graves (como o de 1923). Eles chamam-lhe o "Big One" (aquele que, um dia, há-de vir para nos fazer sofrer). Por isso, quando a terra começa a tremer nunca se sabe se e' o Big One, ou não...

18/10/05

A MINHA MORADA

Podem escrever-me usando o seguinte endereço:

ACTUALIZAÇÃO: JÁ NÃO MORO NESTE ENDEREÇO.

António Rebordão
Room A-403
Soshigaya International Student House
4-24-1 Kami Soshigaya
Setagaya - ku
Tokyo 1570065
Japão

A sanita vanguardista

No Hirose & Minematsu Lab. apenas pactuamos com tecnologia de ponta. Acabo de regressar de mais uma experiencia avassaladora - a sanita vanguardista!

O tampo aquecido conforta a intimidade do momento, os jactos de agua quente (devidamente dirigidos a partir de 3 ângulos distintos) apaziguam mente e corpo. Para aqueles que gostam de ler há uma lâmpada, e os internautas, desde que devidamente munidos com o seu laptop, podem surfar pela web sem terem de se levantar da sanita (há acesso Web via Wireless). Para os mais básicos, como eu, lá nos vamos entretendo com o menu da sanita e com os jactos de agua. Há sanitas assim...

13/10/05

...

Apos 7 dias sinto que Toquio e' completamente indescritivel.

Preciso de digerir todos os estimulos que me tem sido oferecidos. So depois disso vos conseguirei escrever.

30/09/05

Poema II

Eles não sabem que o sonho
é vinho, é espuma, é fermento,
bichinho álacre e sedento.
de focinho pontiagudo,
que fossa através de tudo
num perpétuo movimento.

Excerto do poema Pedra Filosofal
António Gedeão (1906-1997)

19/09/05

Interspeech - Eurospeech 2005

Eu e o Professor Hirose - Nos Pasteis de Belém, Lisboa - Setembro de 2005

Quando no verão de 2004 apresentei uma candidatura ao Monbukagakusho para trabalhar no laboratório Hirose & Minematsu, da Universidade de Tóquio, estava longe de imaginar que passado pouco mais de um ano, seria o próprio Lab a vir ter comigo. Mas assim foi...

Neste início de Setembro Lisboa acolheu as conferências internacionais de Processamento de Fala (Interspeech - Eurospeech 2005) e tive a oportunidade, única para um "caloiro", de mergulhar, num único fôlego, no que vai ser o meu universo nos próximos anos e também, de certo modo, de ser anfitrião daqueles que irão ser meus anfitriões; O Professor Hirose e vários membros (8) do seu laboratório vieram de Tóquio até Lisboa, para participar nas conferências.

Lisboa possui uma graça que encanta e os Japoneses envolveram-se nesse encanto. A comida, o fado, a gente e a cidade em si não deixam ninguém indiferente e foi assim que Portugal se instalou no seio do Hirose & Minematsu Lab.

Durante 5 dias a ficção científica tornou-se real e ganhou cor, som e cheiro nos quotidianos futuristas (que já são reais) descritos pela IBM, MIT, Microsoft, Sony, Honda, Toshiba, Nokia, e um sem fim de instituições/empresas de renome. O futuro já começou e eu estou nele!

Os números do evento: um total de 687 artigos; 55 apresentações e 80 poster diários; 1300 participantes de 62 países diferentes, vários KW de electricidade gastos e um rol de dinheiro investido em prol do avanço cientifico.

A Michiko e Eu - No restaurante K, Lisboa - Setembro de 2005

13/09/05

Poema I

Minha aldeia é todo o mundo
Todo o mundo me pertence
Aqui me encontro e confundo
Com gente de todo o mundo
Que a todo o mundo pertence

António Gedeão (1906-1997)

10/09/05

Andanças Europeias

Numa noite fria de Fevereiro uma ideia aqueceu-me. A ideia cresceu e ganhou forma num turbilhão de desejos de mobilidade. Sonhei deambular por terras Europeias antes de rumar ao país do sol nascente, tendo por único mote o olhar.

Os parcos recursos de professor contratado ditaram uma criteriosa pesquisa nas (benditas sejam!) companhias aéreas para pés descalços e, ao sabor de excitantes combinações mentais, construiu-se um mapa de andanças para o Agosto que se avizinha.

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OUTPUT:
De mochila às costas, em solitário, sem repetir rotas, 25 dias em 6 capitais europeias.
Lisboa - Londres - Amesterdão - Budapeste - Bratislava - Viena - Varsóvia - Lisboa
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O projecto Agosto 2005 hibernou e envolvido pela azáfama da escola, as férias chegaram num fósforo.

I - LONDRES (3-9/08/2005)
Muitos mundos reunidos num só. O pulsar da diversidade e da etnicidade numa cidade plena. O passado e o presente coexistem harmoniosamente e uma exuberante multi-culturalidade atrai o olhar.
Gostei das pessoas. Escassos dias antes o terror tinha descido ao metro, bem visível no intenso policiamento, mas os rostos não espelhavam o medo. O clima apesar da (má) fama esteve a meu favor - sol, calor e sandálias.
O Melhor: *A diversidade étnica de Chinatown, Soho ou Peckham Rye *O verde de Highgate Hill *A arte do Tate Modern *O frenesim das pessoas em Trafalgar Square *

II - AMESTERDÃO (9-15/08/2005)
Passear à toa por entre as bonitas e bem preservadas (que longe estás, Lisboa!) casas do séc. XVI, sonhar com as charmosas casas barco que povoam os inúmeros canais e viver a cidade numa bicicleta. Afastando-nos das rotas turísticas, somos envolvidos pelo bucolismo e pacatez holandesas.
A cidade é bonita, descontraída e ... aborrecida, povoada por gente individualista e discreta. Não serão um povo caloroso mas é possível observar que têm um ritmo de vida descontraído. A cidade é relativamente pequena, calma e percorre-se em poucos dias. Os Coffee Shops e o Distrito Vermelho depressa se tornam monótonos e muita coisa encontra-se completamente "turisticalizada".
O Melhor: *Tarte de maça na Villa Zeezicht *O uso massivo da bicicleta *As casas bonitas que ladeiam os canais *

III - BUDAPESTE (15-21/08/2005)
O Danúbio é encantador e cheguei a tempo do famoso festival de verão Sziget (o prato do dia foi Nick Cave e os Bad Seeds). As verdes colinas de Buda, a animação de Peste e o serpentear do rio são imagens coloridas que alimentam qualquer sonho de Verão.
Nas minhas explorações afastei-me dos trilhos turísticos e pude ver uma Budapeste mais real, nua e crua. Nos banhos Húngaros a tradição Otomona/Romana encontra-se preservada. Abandonei-me ao prazer corporal como um Romano decadente (embora faltassem as jovens lascivas a espalhar óleos perfumados no meu corpo). Usei sandálias q.b. e convivi intensamente com os simpáticos nativos.
O CouchSurfing proporcionou-me outra visão da cidade e vivências inacessíveis a um simples turista e a oportunidade de ser guiado pela Kinga através das terras e da alma húngara.
O Melhor: *O Dánubio *A Kinga *A vista nocturna a partir da colina Gillert *Os banhos Húngaros *

IV - BRATISLAVA e VIENA (21-24/08/2005)
Uma agradável viagem de comboio levou-me para Bratislava, com o Danúbio sempre presente, a embelezar o meu percurso. Fui encontrar uma cidade pequena e bonita, que se explora facilmente em 2/3 dias e, "at last but not at least", barata. A localização da cidade é fantástica e poderá servir de ponto de partida para explorar as lindíssimas montanhas Tatra e a parte leste da Eslováquia (com paisagens de tirar a respiração). E Viena está a uns meros 60Km...
A minha anfitriã (Zuzana) foi incansável na divulgação dos hábitos e cultura Eslovaca. Mostrou-me os locais de maior interesse, dedicou-me palavras amigas, conselhos valiosos e sorrisos calorosos. Viva o CouchSurfing!

Post-scriptum: Na minha excursão a Viena, encontrei uma cidade imponente e bela, senhora de um passado/presente requintado. Embalei-me mentalmente com os quadros de Klint, com a filosofia de Wittgenstein e com a música vienense a ecoar na minha imaginação.

O Melhor: *A hospitalidade da Zuzana *As paisagens devastadoras *A comida saborosa *

V - VARSÓVIA e ZAKOPANE (24-28/08/2005)
As asas de um Embraer 120 (com capacidade para 30 passageiros) permitiram-me reencontrar a querida Aneta e constatar o cosmopolitismo de Varsóvia em todo o seu potencial.

Tínhamos por planos visitar, durante dois dias, as montanhas do Sul Polaco - os Tatra. Dormimos num hotel comunista e sem receios afirmo que Zakopane foi dos momentos áureos de toda a minha viagem - as casas assumem formas extravagantes que se assemelham a árvores de natal, as colinas verdejantes estão povoadas de vaquinhas e ovelhas simpáticas, os regatos de água serpenteiam pelos vales e encostas, tudo é verde e as montanhas estão repletas de pinheiros que se esticam para o céu.

No 1º dia descemos o rio Dunajec, 18Km de jangada através das fundas gargantas rochosas dos Tatra, o murmurar da água, o verde da paisagem e os cheiros conduzem-nos a um orgasmo tranquilo. Durante toda essa tarde fui livre.

No 2º dia apanhamos um mini-bus em direcção ao sopé das montanhas e fizemos trekking pela montanha acima. Depois de muito subir, um céu de lagos e cumes escarpados. O êxtase da montanha. Regressei a Varsóvia suspirando pelo regresso.
O Melhor: *A Aneta *As montanhas Tatra *Glamour Polaco*

VI - A RESSACA DO REGRESSO
Regressei e demorei 2 dias para interiorizar o facto de que tinha regressado à minha pátria - deixei de ser um back-packer para passar novamente a ser um cidadão. E aqui estou: entre o prazer de voltar e o desejo de partir.

NOTA: O CouchSurfing foi uma forma extremamente agradável de conhecer pessoas interessantes e de conferir calor humano/social aos sítios visitados. Além disso, arriscamo-nos a criar amizades...

AGRADECIMENTOS:
À comunidade CouchSurfing, Carmel, Inês, Carolyn, Linda e a todos os convidados que estiveram presentes na festa, João Grilo, Judi, Cláudia, Lídia, aos 2 Macedónios do camping, Stan da Man, Kinga e todas as pessoas a que ela me apresentou, Harpad aka "Chica de la Sierra", Zuzana, Monika, Aneta, Ania de Poznan e a todos os desconhecidos que me ajudaram.

01/04/05

Foi assim que tudo começou...

Num dia quente de Julho, recém-chegado da Polónia, aconteceu uma daquelas flutuações no espaço-tempo que mudam o devir. Estava eu a caminho da Biblioteca da UBI, quando encontro o Miguel Catita (MC) a caminhar na direcção oposta. Embora o apelo dos estudos (fase terminal da época de exames) se fizesse sentir, MC aceitou o convite para uma "Super Bock", acompanhada por uma amena cavaqueira, e lá fomos para o Bar Oitavos. Acabámos os dois na biblioteca a partilhar conhecimentos de programas de internacionalização, sonhos e afins. O verão Português tem destas coisas...

MC voltou a mencionar o programa Monbukagakusho. Lembrava-me vagamente de ter visto, no ano passado, cartazes alusivos a esse programa. Pensei para comigo: Japão? Porque não?! Foi assim que aceitei o desafio. Até onde conseguiria chegar?!

A miríade de documentos (traduções, cartas de recomendação, carta de aceitação, analises clínicas, atestado médico, etc.) que a candidatura exigia, fez-me entender que se exigia um verdadeiro espírito Samurai. Obstáculo atrás de obstáculo, foi-me possível, em duas semanas intensas, preparar a candidatura. Depois de uma noite passada em branco e de uma corrida ininterrupta entre o Intendente e o Martim Moniz, 5min antes de terminar o prazo de entrega dos documentos, pingando rios de suor, entrei esbaforido na Embaixada Japonesa com a minha candidatura na mão. Foi assim que tudo começou...