31/03/06

Sakura

As cerejeiras em flor (Sakura), na sua migração de Sul para Norte, atingiram Tóquio e o branco instalou-se. A beleza efémera da flor é motivo para muita socialização - organizam-se piqueniques e autenticas peregrinações colectivas em busca da flor que enche o olhar (Hanami). Os Media acompanham diariamente o avanço da floração e fazem disso um acontecimento nacional.

A Sakura é Rainha e Senhora de um momento fugaz onde muitos Japoneses, de íris bem aberta, invadem os parques de máquina fotográfica ou telemóvel em punho para captar a beleza da flor. Há também quem estenda as mantas de piquenique sob as copas floridas (alguns fazem-no durante a noite para obterem os melhores sitios) e se deixe levar pelo deleite do branco. Familias, amigos, crianças e idosos todos unidos sob a egide da flor!

Também eu procuro beber desta beleza envolvente que tanto me recorda as cerejeiras da minha terra. As cerejeiras em flor da Serra da Gardunha (Beira Baixa - Fundão) além de serem igualmente belas geram deliciosos frutos, o que já não acontece com as congéneres Japonesas (que apenas dão flor).
Mais fotografias disponíveis em http://rebordao.net/temp/sakura/

20/03/06

Yoyogi Koen I


O Elvis Presley está vivo! Vive em Tóquio e à sua volta há moças de trajes estranhos.

O parque de Yoyogi Koen podia ser mais um parque banal com os habitue normais (namorados e familias em piquenique; praticantes de yoga; desportistas solitários e equipes a jogar futebol ou rugby com um frisbee) mas como descrever os aspirantes a Fred Astaire, as bandas que não-são-de-garagem, os 26 sócias do Elvis e as moças de Harajuku?!

Aos fins-de-semana músicos e bandas trocam a garagem (que não existe) pelo verde de Yoyogi Koen. Com os seus geradores e amplificadores inundam o parque de Jazz, Rock e Folk. O mesmo se aplica ao Tokyo Rockabilly Fan Club que, em grande estilo, nos faz crer que o Elvis está vivo e, por entre vendedores ambulantes de comida, lá se encontram à saída da estação as coloridas moças de Harajuku.

NOTA: as moças (também há moços) de Harajuku são adolescentes que procuram manifestar a sua individualidade, quebrar alguma da rotina semanal e captar a atenção e a simpatia de quem passa. Numa sociedade orientada em torno de grupos e do uso de uniformes as moças de Harajuku criaram o seu próprio grupo que se veste com uniformes individuais de cores alegres e adereços extravagantes. Algumas delas parecem frutas gigantes de cores psicadélicas mas os estilos predominantes são as Góticas, as Lolitas, as Decoras e as Cyber-fashion. Adoram ser fotografadas e podem ser vistas aos fins-de-semana em Harajuku.

14/03/06

Tailândia I

Se o Natal é quando o Homem quiser, o verão também o é! Pelo menos enquanto pudermos voar para os trópicos. Foi assim que os tunisínos Wael e Achraf e o vosso António (aka eu) se embrenharam numa curta e intensa visita ao reino da Tailândia.

Ao sair do avião o calor intenso envolveu-nos numa cortina húmida. A caminho do hotel comovemo-nos com as árvores estranhas que nos ofereciam o auge da sua floração enquanto os nossos ávidos olhos de turista observavam os nativos, as cores alegres e o reboliço de Bangkok com os seus 8 milhões de habitantes.
O hotel revelou-se uma óptima surpresa. Largamos as bagagens e partimos de novo... Em Silom (uma das zonas centrais da cidade) esperava-nos uma mistura de cheiros e cores; a tentação que habita as ruas de PatPong; os divertidos táxis Tuk Tuk e uma imensidáo de vendedores de rua (fruta, comida, roupa, souvenirs, inutilidades, etc). Recomenda-se negociar os preços, é frequente pedirem até 5 vezes o preço por que estão dispostos a vender, aqui turista é pato!
Há que visitar o templo Emerald e o de Wat Pho e, nos intervalos, beber um coco fresco, embriagar os sentidos com frutas tropicais, deleitar-se com a gastronomia local (tendência para o picante, uso da galinha, do peixe, dos moluscos e dos frutos do mar) e experimentar as famosas massagens Tailandesas.

Fora de Bangkok recomenda-se uma ida à famosa praia/cidade/ilha de Pattaya (157Km Sudoeste), ao Mercado Flutuante (76Km Oeste) e a Ayuttahaya (83Km a Norte). Nessas viagens talvez possam vislumbrar um imaginário de selvas com elefantes, crocodilos, tigres, cobras venenosas, iguanas em abundândia, ruinas de civilizações idas, frutas exóticas a crescer à beira da estrada e o Oceano Indico ali mesmo ao lado.O regresso a Tóquio é doloroso. Aqui não há as cores fortes e/ou o calor das paisagens tropicais... Mas... assim é a vida! Para me animar, já comecei a planear a próxima expedição (Tailândia e Cambodja - Agosto 2006).

Mais fotografias disponíveis em http://rebordao.net/temp/tailandia1/

04/03/06

O culto

Preenchi uma tarde chuvosa deambulando por Kasumigaseki. Uma zona de escritórios pontuada por salarymen em movimento, alguns templos e cemitérios. Os arranha céus impõem-se e fazem-nos esquecer que os templos precederam a urbanidade actual.

Explorei os jardins de 2 templos Xintoístas e, fugindo da chuva, abriguei-me num dos grandes templos Budistas (Zõzõ-ji) da área. O cântico febril de 2 monges e o rufar dos instrumentos de percussão convidaram-me a entrar. Encontrei-me então num local amplo e escuro onde meia dúzia de crentes se envolviam em preces e no intenso cheiro a incenso. Um som ensurdecedor ecoava por entre as colunas vermelho lacre à medida que os monges convergiam para o transe religioso. Dois Budas laterais ladeavam o altar principal onde um outro Buda assistia impávido a contemplação dos crentes e, do interior do templo, chegava-nos o soar dos gongos e a indicação de cerimónias misteriosas que não nos era permitido presenciar.

Subitamente os monges retiraram-se, e o silêncio instalou-se, passados breves instantes regressaram na companhia de um outro sacerdote. Solenemente ocuparam posições junto ao Buda central e, de costas viradas para os 11 crentes presentes, iniciaram um serviço religioso. Crentes e sacerdotes envolveram-se no transe dos cânticos, no soar dos gongos e na deferência das vénias. Eu, embriagado pelo cheiro, com o coração apressado pelos sons, repousava o meu olhar na simplicidade e elegância do local, no dourado dos altares, no vermelho lacre das colunas e na peculariedade do evento.
Fonte da purificação num dos templos Xintoístas de Kasumigaseki