30/01/06

O Expresso da Meia-Noite

Na hora do lobo (00:00h) os comboios PARAM o seu vaivém, e os noctívagos perguntam-se: Vamos no Expresso da Meia-Noite ou no Comboio da Manhã?

Às Sextas-Feiras e aos Sábados, ao soar a meia-noite, os que escolhem a primeira opção abandonam a lascividade dos neons. Das Mecas do Prazer parte então o Expresso da Meia-Noite. Onde se transgridem os limites da capacidade, e a soma do volume das partes parece superior ao volume do todo. Os corpos quase que se fundem uns nos outros... Misturam-se cheiros, falas, risos e mãos atrevidas, naquele que é o comboio mais ruidoso da semana.

Nos dias de semana o Expresso da Meia-Noite é apenas um comboio de gente exausta e de olhar vazio. Pessoas apáticas de tanta fadiga, e Salarymen (ver nota) alcoolizados que regressam a casa para algumas horas depois fazerem o percurso inverso. E' um bando de gente cansada e calada que nos faz crer que esta cidade cansa...

Post-scriptum: Salarymen é o nome pelo qual são conhecidos os "homens que executam um emprego de colarinho-branco", e que costumam tem a responsabilidade económica do agregado familiar exclusivamente a seu cargo. Vestem-se todos de igual (fato clássico, gravata, cachecol, sobretudo e mala preta), trabalham que se desunham e adormecem facilmente nos comboios.

23/01/06

Memórias de um Inverno distante

Uma das entradas da Universidade (Akamon Gate)

A neve que cai leva-me de volta ao Inverno da Minha Vida, 2001, Finlândia, Oulu (148 Km abaixo da linha do Circulo Polar Artico). Grandioso ERASMUS, que descobertas (interiores/exteriores) me proporcionaste!

As memórias desse Inverno distante são feitas de florestas silenciosas, vestidas de verde e branco; de pessoas bonitas; das noites (quase que) intermináveis; das sempre deslumbrantes Aurora Borialis; de caminhar sobre rios e lagos (gelados claro, pois não nos chamamos JC); do vigor proporcionado pelos -32 graus Celsius e do branco como companheiro diário. E' neste clima inóspito que somos assaltados por uma tão intensa comunhão com a Mãe natureza.

Insólitamente este Sábado nevou em Tóquio. Durante todo o dia as nuvens vestiram a cidade de branco e, por breves momentos, achei-me em Oulu. Contudo, não tardei a detectar o embuste. Faltava a mística e a comunhão escandinava.

Na Universidade surpreendi-me com um Campus inundado de neve e de colegiais. Centenas de jovens jogavam o sonho das suas vidas. Sob o auspício do manto branco que caía do céu faziam os exames de admissão para a selecta Universidade de Tóquio. Que a bonança esteja com todos eles!

20/01/06

Poema V - É p'rá amanhã

É p'rá amanhã
Bem podias fazer hoje
Porque amanhã sei que voltas a adiar

E tu bem sabes como o tempo foge

Mas nada fazes para o agarrar

Foi mais um dia e tu nada fizeste
Um dia a mais tu
pensas que não faz mal
Vem outro dia e tudo se repete
E vais deixando ficar tudo igual


É p'rá amanhã
Bem podias viver hoje
Porque amanhã quem sabe se vais cá estar
Ai tu bem sabes como a vida foge
Mesmo que penses que está p'ra durar
(...)


É p'rá amanhã
Deixa lá não faças hoje
Porque amanhã tudo se há-de arranjar
Ai tu bem sabes que o trabalho foge
Mesmo de quem diz que quer trabalhar
(...)


Excerto da canção "É p'rá amanhã"
António Variações (1944-1984)

08/01/06

2006 - Ano do cão

Chegou o momento do fiel companheiro: 2006 é o ano chinês do cão.

O Ano novo é uma das grandes festividades do Japão: durante 6 dias o mundo do trabalho foi esquecido (juro!) e apenas os serviços mínimos se mantiveram a operar... As pessoas reuniram-se em família e visitaram os templos, na ânsia sempre renovada, de que este ano seja o tal.

Nos 3 primeiros dias de 2006, 93.5 milhões de pessoas foram aos templos. Segui a maré e foi em Meiji Jingu (o maior templo Xintoísta de Tóquio) que o novo ano me encontrou, fiz as minhas oferendas e preces com um sorriso, pois o meu ano do galo (2005) foi óptimo e sempre gostei de cães...

O retomar do trabalho foi gradual, o espírito de festa permaneceu ainda por mais alguns dias. Só assim se justificam as gravatas desalinhadas e a falta de equilíbrio de alguns, bem como aqueles outros que, de bagagens na mão, regressam ainda à capital.

Agora os comboios voltam a estar lotados e as ruas enchem-se dos sons e da azáfama habitual. A normalidade regressou. A Todos, Um Feliz Ano do Cão!

Post-scriptum: Normalmente a segunda lua nova a seguir ao Solstício de Inverno marca o inicio do Ano Novo Chinês. O Ano Novo inicia-se entre 21 de Janeiro e 19 de Fevereiro (este ano calha a 29 de Janeiro) e o ano Gregoriano de 2006 equivale ao ano Chinês de 4703. Ou seja, ainda estamos a tempo de ter uma segunda passagem de ano para 2006... :-)