28/12/10

Malta I

La Valleta, Dezembro 2010
As correntes de ar quente que assolavam o Mediterrâneo conduziram-nos a Malta onde a vida caminha devagar e amena por entre enseadas de encantar. Em autocarros Leyland dos anos 60 percorrem-se paisagens onde as casas de calcário se confundem com os campos que a qualquer momento podem reivindicar o seu estado original. Cidades como Mdina e Valleta encerram mistérios de tempos idos e vilas como Rabat transportam-nos ao interior Português dos anos 80: os cafés mercearia; os alfaiates casino e as montras amareladas pelo sol. Mais além, as praias e baías do Norte permitem-nos esquecer a azáfama da Europa continental e áreas como St Julian, Sleima e Peaceville ostentam orgulhosamente as suas modernas urbanizações à beira mar, a marginal picotada por restaurantes interessantes, bares e hotéis estrelados (recomenda-se os restaurantes Peperoncino em Balluta Bay e La Cuccagna em Sliema).


Post-scriptum:
Malta situa-se entre a Tunísia e a Sicília. Possui um clima privilégiado, 410 mil habitantes e vive do turismo, do transporte marítimo e de alguma indústria. Tem um passado antiquíssimo (com templos Megalíticos de 3600 a.C.) e assistiu ao vaivém de vários povos, por exemplo, os cavaleiros da Ordem de Malta (ou Hospitalários) fizeram de Malta a sua sede por 270 anos.

Autocarro Maltês em Rabat, Dezembro 2010

10/12/10

A Carta III

Hangzhou, China, July 2008
“Senhor, posto que o Capitão-mor desta Vossa frota, e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza” as novas desta vossa armada e do achamento de Terra Nova, “que se agora nesta navegação achou, não deixarei de também dar disso minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que -- para o bem contar e falar -- o saiba pior que todos fazer! Todavia tome Vossa Alteza minha ignorância por boa vontade, a qual bem certo creia que, para aformosentar nem afear, aqui não há de pôr mais do que aquilo que vi e me pareceu. E portanto, Senhor, do que hei de falar começo:”

Partimos do Oriente, como Vossa Alteza sabe, ao longo do ano 2009 da nossa graça e Senhor. Terras Novas, nativos de todo o mundo, comida exótica e um espanto quase-que-diário ficaram na ilha de Cipango, a qual os vossos marinheiros aprenderam a amar. Ao longo desse ano, com ventos de feição, as vossas caravelas galgaram mares, passaram cabos e aportaram em inúmeras baías. Deitámos âncora em Terras de Flandres e andamos em calma desde esse dia. As viagens foram tantas e tamanhas que não se podem calcular. Mas sossegai Meu Senhor pois, ao longo das próximas missivas, este vosso servo dará a Vossa Alteza do que nesta e noutras terras vi.

Por agora, tenho aprendido os saberes locais na Universidade de Gent. A mando do senhor local fomos convidados a elaborar novas teorias das Probabilidades para avançar a compreensão deste mundo que se diz esférico. 

Beijo as mãos de Vossa Alteza.

Deste porto seguro, Gent, Condado de Flandres, hoje, Sexta-feira, décimo dia de Dezembro de 2010.

António Rebordão

Post-scriptum:
O 1º paragrafo faz parte da Carta de Pêro Vaz de Caminha sobre a chegada ao Brasil.