31/03/08

A saga continua

Ontem, acusando a ressaca de não ter à mão nenhum livro para ler e na ausência de metadona, sucumbi ao momento e comprei outro bilhete de avião. A saga Austrália 2008 ainda não terminou...

Austrália em números:

Área: 7,686,850 sq km

Costa: 25,760Km

População: 20 milhões (aprox.)

Taxa de desemprego: 4.4% (2007)

PIB: 37,500$ (2007)

Défice Público: 15.2% (2007)

Para mais informação clique aqui.

28/03/08

Serra da Gardunha

As Japonesas são bonitas mas não há flores como as da nossa terra. Todos os anos as cerejeiras em flor da Serra da Gardunha (Beira Baixa - Fundão) proporcionam um espectáculo grandioso que posteriormente é premiado com frutos de uma qualidade fantástica. Vale bem a pena ir ver a floração e/ou comer essas cerejas deliciosas, particularmente no vale entre a Alcongosta e o Souto da Casa.

Sakura 2008 I

A Primavera chegou a Tóquio, as flores brotam em todos os sítios e multiplicam-se braços esticados de telemóvel em riste a captar o momento singelo daquela flor que, naquele dia e naquela árvore, atingiu o auge da sua floração. Os que gostam de "complicar" munem-se de aparatosas máquinas fotográficas mas também eles procuram o momento de ouro.

Desconfia-se que as próximas 2 semanas serão de festa; a cidade já está engalanada de branco e as multidões preparam-se para comemorar efusivamente. Próximos capítulos para breve.


Post-scriptum:
Para ler sobre as Sakuras de 2006 e 2007 (cerejeiras em flor) cliquem na etiqueta
Sakura.

26/03/08

Voo JL 762 para Tóquio

Abandono-me aos últimos estertores do verão sub austral enquanto espero pelo voo JL 762 para Tóquio. Nos entretantos faço uma retrospectiva das últimas semanas e antevejo uma chegada entusiasta a Tóquio onde se espera que encontre a segurança do quotidiano, as engrenagens que constroem o meu futuro e o desabrochar da Primavera (as cerejeiras em flor são um dos ícones Japoneses e a sua chegada é fortemente comemorada com festas, piqueniques e fotografias pois, à semelhança da vida, também a flor é bela, frágil e efémera).

Levo comigo a simpatia, a acessibilidade e a aparente despreocupação do povo Australiano. Aparentam ter maiores preocupações ambientais do que o cidadão Europeu comum e nota-se uma presença significativa de modos de vida alternativos em que saúde, tempo livre, viajar e desporto são preferidos face aos empréstimos bancários a 25 anos e aos portões automáticos de garagem. Foi esta a impressão que ficou ao contactar com a Melanie e os seus amigos, o Richard e alguns desconhecidos. Sei que eles são atípicos e desconfio que o Australiano Vulgaris é diferente. O JG, com o conhecimento de quem vive no local, concorda na simpatia e acessibilidade mas alerta-me para a superficialidade da maioria, a rendição ao consumismo e a preocupação em parecer sem o ser. Acredito que a visão dele é bem mais realista do que a minha...

O viajar permite-nos valorizar os pormenores do quotidiano e reencontrar a beleza perdida mas, após a chegada e com o passar das semanas, essa beleza volta a diluir-se por entre a azáfama diária. No combate ao embrutecimento mental recomenda-se ler pois ler é imaginar e imaginar é viajar. Sendo assim e, de uma só assentada, reli o BuenaYork do Gonçalo Mata e A Lua Pode Esperar do Gonçalo Cadilhe. Ambos têm passagens que retratam a Patagónia, que é também o pano de fundo do delicioso blogue A Estação do Calor, o destino do Nuno Brilhante, a viagem concretizada do Tiago Lages e o cenário do famoso livro do Bruce Chatwin. Onde termina a Patagónia e começa a desolação do Fim do Mundo dizia-se que havia um mundo ao contrário, em que o sol seria negro e as árvores cresceriam ao contrário. Este temor foi desmistificado e vencido por um trasmontano, que em 1520, atravessou o estreito que posteriormente herdou o seu nome. Ah grande Magalhães!

Agora que estou de volta à ilha de Cipango (Japão) irei retomar as crónicas e as observações sociais daquilo que me é dado ver por aqui. Reportagem Cerejeiras em Flor 2008 para breve!

25/03/08

Brisbane

O outro lado do rio visto de South Bank - Brisbane, Austrália

Com todo o tempo do mundo sentámo-nos no Simply Wok para um pequeno-almoço reforçado de frutas, natas e muffins regados com chá e a simpatia dos proprietários. Despedimo-nos com a promessa de regressar e rumámos ao encontro da Melanie lá mais a Sul, em Brisbane. São esses os momentos mais excitantes do acto de viajar, a partida e a chegada, o desfilar da paisagem, o frémito da mobilidade e a novidade de pisar terras onde o nosso olhar ainda não pousou.

Chegámos a Brisbane às 20h de uma Sexta-feira e o centro da cidade estava animado com muitas pessoas em Modo Festa. Uma dessas pessoas recebeu-nos de braços abertos e imediatamente nos rendemos à cidade. Com apenas 2 dias para deambular por ali sabíamos que
quanto muito iríamos ver as ramagens da cidade e não a sua essência. Por isso, optámos por passar tempo com a Melanie e com o Dave (ambos personagens interessantíssimas que parecem ser irmãos em vez de pai/filha).

Antes, exilavam-se os “indesejáveis” para a Sibéria, Tasmânia, Tarrafal e/ou Baia dos Porcos. Em suma, para sítios inóspitos e pouco convidativos. Brisbane está longe disso e é difícil imaginar que está cidade tenha nascido a partir de uma colónia penal. Apresenta-se bonita, com um rio serpenteando por entre subúrbios, torres financeiras e jardins à beira rio. O centro da cidade possui um estilo Europeu, as ruas são largas e os subúrbios, ou são modernos seguindo o modelo Americano ou são feitos de carismáticas Queenslanders de amplos jardins. A própria Melanie vive numa dessas casas com um quintal ponteado de árvores de Advocato e de Mangas!

Adorei ter ido a um mercado ao ar livre cuja atmosfera parecia ter saído de um festival de verão camuflado de feira de legumes/frutas. Por entre vegetais e lojas alternativas, havia músicos, massagistas, tendas de chá, mel, pedras exóticas, roupas coloridas e praticantes de Falun Dafa e Yoga. Cheirava a incenso, fruta e comida e, quando a fome apertou, não foi fácil escolher por entre um cardápio de pastelaria apetitosa e iguarias Gregas, Turcas, Chinesas, vegetarianas, etc. O mundo parecia diferente neste Sábado de manhã…

Post-scriptum:
As casas Queenslanders são eco-amigáveis e adaptadas ao clima do Nordeste Australiano. Construidas em madeira, têm varandas e janelas grandes e estão assentes em pilar
es de modo que as correntes de ar refrigerem a casa de forma natural.

Mulheres caminhandoUma deusa AsiáticaDespedida de solteiraWendy e MelanieUm canário chamado MelanieErhan, Wendy, Melanie, Lauren e AntónioA minha anfitriã MelanieBanca de frutaMãe e filhoAntónio, Melanie e Dave

15-17 de Março

24/03/08

Rotina Vs Mudança

Pássaro Australiano - Março de 2008

"É muito normal seguir na estrada acompanhado por enormes pássaros. Vejo tantos, que infelizmente já me habituei. Nos primeiros tempos, era bem capaz de parar a mota, trocar de lente e disparar maravilhado. Agora sinceramente já os vou ignorando. (...) Não há como combater esta desvalorização do quotidiano. O momento de apreensão de uma novidade é inigualável e esse prazer é intrínseco ao facto de nos obrigar a trabalhar as estruturas da percepção, a adaptá-las a essa nova combinação de estímulos. Repetindo-se o fenómeno, actua uma optimização mental que laboriosamente vai remetendo essa assimilação cada vez mais para processos sub-conscientes, e acho que é por isso que quando vivo rotineiramente sinto a vida passar-me ao lado, (...)."

Em p. 182 do livro BuenaYork do Gonçalo Gil Mata

Gosto deste texto e mensagem. Realmente "é difícil combater a desvalorização do quotidiano" e há que suscitar a mudança incorporando-a numa rotina que nos safisfaça (porque vida sem rotina chama-se utopia).

23/03/08

Hervey Bay e Fraser Island

Pontão para o mar, comprimento de 846m - Hervey Bay

Sabíamos que a aridez Australiana estava a vários dias de distância para Oeste, as neves para Sul e os corais muito ao Norte. Não tínhamos "água" (tempo) para tal e as "mulas" (contas bancárias) acusavam sinais de desgaste. A dimensão do país levou a melhor (com Alice Springs a 1900Km, Perth a 4153Km, Broome a 5065Km e o João a 1860Km de distância), abdicámos de alguma ambição e decidimos contornar a costa seguindo ligeiramente para Norte.

Embarcámos numa manhã solarenga com ventos de feição no célebre autocarro da Premier que varre a costa de Sydney a Cairns ao longo de 2500Km de corais, praias recônditas e uma subtropicalidade constante que só conhece o verão. Passámos por Brisbane e por vários recantos abrigados (Rainbow Beach, Noosa, Maroochy, Gympie, Maryborough) que valem pela sua beleza natural, pelo ambiente descontraído, pelas noites povoadas de estrelas e pelos dias preenchidos de surf até à exaustão e, com o embalo do tempo lá chegámos ao nosso destino (360Km a Norte de Brisbane).

A Hervey Bay destaca-se pela extrema afabilidade dos nativos, pelo sossego e pelos 10Km de areal ao dispor de quem os procura. De Abril a Outubro as baleias vêm aqui procriar e eu bem que as compreendo...


Ali mesmo ao lado, a natureza caprichou pois as correntes marítimas, ao longo de 800 mil anos, arrastaram e depositaram sedimentos que criaram uma ilha (Fraser Island). Uma ilha que tal como muitos sonhos ou castelos, é feita exclusivamente de areia e que possui o epíteto de
"a maior ilha de areia do mundo". Um total de 1800Km2 de um ecossistema único e eficazmente protegido da acção humana (a exploração madeireira e a extracção de minério foi feita de forma sustentada até que cessou em 1991). Hoje é quase impossível ver essas cicatrizes e a ilha apresenta-se num estado quase puro que lhe confere o estatuto de património mundial da humanidade. A parte central da ilha surpreende pela vegetação e pelos riachos cristalinos (a areia filtra as impurezas) que serpenteiam por entre selvas subtropicais e árvores centenárias de copas frondosas. As estradas da ilha são de areia e território exclusivo de veículos todo-o-terreno, sendo que a maior estrada da ilha é a praia da parte Este da ilha. São 120Km de areal atravessados por jipes e camiões quase que saídos de um Lisboa – Dakar e, circular na cabine de um destes camiões é ser livre por momentos pois, mesmo ali a nossos pés, a praia é acometida por correntes violentíssimas e as águas estão infestadas de tubarões tigre. Já que é letal nadar na praia, a natureza criou 40 lagos de água doce (proveniente das chuvas) que assumem tons verde selva ou azul-turquesa e, ao largo, os golfinhos, as baleias e as tartarugas visitam sazonalmente a ilha entrelaçando-se em jogos amorosos enquanto em terra os Dingos (cães selvagens) rondam os turistas na ânsia de lhes roubarem algum naco de pão ou criança (já comeram duas). Com o cair da noite os ciclos deste ecossistema alteram-se, a omnipresença do Universo assalta-nos e soltamos um olhar extasiado de criança ao constatar o tão bonito que é o céu. Como a poluição luminosa é insignificante nesta zona do planeta, quando a noite convida ao abrigo do hotel, o céu explode numa cacofonia de profundidade e intensidade apenas comparável com a grandiosidade das Auroras Boreais. O céu assume uma magnitude indescritível onde as estrelas dançam para nós e a via láctea é feita de sonhos. Sucumbe-se ao momento até que o chamamento dos lençóis fala mais alto, mas com a felicidade de quem finalmente viu o céu...

10-15 Março


Post-scriptum:
Em Hervey Bay recomenda-se dormir no Bay View Motel. No que toca à restauração recomenda-se comer no Simply Wok e/ou no
Angelo Pizza E Cucina ambos na rua The Esplanade. Em Fraser Island o Eurong Beach Resort oferece uma relação preço/qualidade simpática.
Floresta subtropical - Fraser Island, Austrália
Riacho de águas limpidas - Fraser Island, Austrália
Dunas - Fraser Island, Austrália
Dunas - Fraser Island, Austrália
Lago Wabby - Fraser Island, Austrália
Erva "cauda de raposa" - Fraser Island, Austrália
Lago MacKanzie - Fraser Island, Austrália
Dingo (cão selvagem) - Fraser Island, Austrália
Restos do naufrágio do Maheno - Fraser Island, Austrália

Praia Este e/ou estrada - Fraser Island, Austrália

20/03/08

Gold Coast e Hinterland

A Sul de Brisbane encontram-se algumas das melhores ondas do mundo, a afamada Gold Coast onde impera a praia e o surf é rei e senhor. Snapper Rocks, Burleigh Heads e Coolangatta são aclamadas pelas suas ondas e breaks e os amantes do género afluem de todas as partes num culto colectivo marcado pelas festas, pelo bronzeado e pelo gosto em cavalgar/escutar o mar.

Ao afastarmo-nos da costa temos a Hinterland com as suas montanhas, florestas tropicais e parques naturais (Lamington e Springbrook) onde pássaros coloridos, wallabies, perus, possums, alpacas, vacas e cangurus coabitam alegremente com cobras venenosas e turistas. Espaços amplos e abertos que se espraiam por vales luxuriantes, vinhas e florestas subtropicais.

19/03/08

oporto

Pelos vistos a associação turística que Portugal fez ao promover-se como Europe West Coast já está a dar frutos. Em plena artéria principal de Surfers Paradise encontrei a gastronomia Portuense sob a forma de uma cadeia de hambúrgueres chamada "oporto" e parece que os seus "deliciosos opregos" são altamente apreciados pelos amantes do género.

O Galo de Barcelos já foi adoptado pela Nando's e o prego pela oporto mas acredito que as açordas, as tripas, o bitoque e a francesinha encerram igual potencial para serem adaptadas ao mercado do fastfood. Procuro parceiro económico.

Post-scriptum: A franchising oporto foi fundada em 1985 por António Cerqueira e já conta com mais de 100 estabelecimentos na Austrália e na Nova Zelândia. Teve uma aceitação e crescimento notáveis e o seu mote é "fresh not frozen, grilled not fried".

NCSP'08

Contrariando a tendência de o NCSP ser no Havai, este ano optou-se por Surfers Paradise. O Watermark Gold Coast Hotel foi o palco escolhido para mais um encontro que juntou 150 investigadores de Processamento de Sinal e, os 3 dias de conferência decorreram com muito convívio, apresentações técnicas, recepções, praia, comida e vinho pelo meio. A organização esteve de parabéns e há que referir que este escriba recebeu um Student Paper Award atribuído aos 22 melhores artigos (entre 147). Assim sim!

Surfers Paradise

Uma construção desenfreada plantou à beira mar dezenas de torres habitacionais que parecem filhos menores ao lado dos 80 andares do célebre Q1. Veraneantes passeiam-se de toalha ou prancha de surf debaixo do ombro e respira-se um permanente ambiente de verão povoado de ritmos fáceis, pessoas quase loiras, praias sem fim e refeições tamanho XL. E é nesta amálgama de hotéis sofisticados, restaurantes, discotecas, lojas de souvenirs e automóveis topo de gama que a malta se anima com as deambulações de corpos sugestivos e um ciclo em que dormir, praia, jantar, disco, dormir se repete ad infinitum. Assim é Surfers Paradise, uma Ibiza Australiana que à semelhança da sua congénere Espanhola é igualmente trashy e flashy. Um lugar descaracterizado a evitar para quem procura algo mais além de sexo, surf, cerveja, praias e festas.

5-10 de Março

06/03/08

O dia nasce

Num amanhecer precoce o dia nasce e sente-se o frémito da mobilidade. Diante da incógnita da chegada pensa-se no que jaz sob estas nuvens enquanto se folheia o guia/bíblia da Lonely Planet. Antevê-se um país gigante que extravasa as noções de espaço, distância e diversidade típicas de um Europeu. Pensa-se em koalas, tartarugas, papagaios, diabos da Tasmânia, surf, imensidão, deserto, rochas vermelhas, cobras, marsupiais, sapatos de crocodilo, corais, tubarões, seres estranhos e árvores estranguladoras. Busca-se no baú da memória os documentários da vida animal e as conversas saudosas com o amigo JG. Antecipa-se o prazer de rever a Mel e o Richard e de que, a sul do Trópico de Capricórnio, os sonhos são verdes e o verão azul. Alea iacta est.

5 de Março

03/03/08